domingo, 7 de outubro de 2007

Burro, mas competente

foto: http://www.utopia-projectos.com/PENSAR.gif


Bernardo já veio ao mundo sobredotado. O seu corpo recém-nascido pesou sete quilos e duzentas e a pilinha dependurada levou uma enfermeira divorciada a pedir à mãe do Bernardo o seu número de telemóvel, com a desculpa esfarrapada de que era para acompanhar o desenvolvimento psico-motor da criança. Mas para além do excesso de peso e da extensão fálica, Bernardo cedo mostrou excepcionalidade noutras áreas, e na aurora dos seus dois anitos, convocou uma reunião de família para anunciar que queria ser físico nuclear e estudar nos Estados Unidos, nem que para isso tivesse de aplicar as economias dos pais num negócio de alto risco ou até candidatar-se a uma câmara municipal e negociar posteriormente com construtores civis. Os pais de Bernardo perceberam logo ali que tinham um filho especial e muito inteligente. E mais convencidos ficaram quando Bernardo, na celebração do seu quinto aniversário, escreveu uma carta ao director de finanças a propor a denúncia dos crimes fiscais do pai em troca de uma cópia de uma aplicação informática evoluída. O director das finanças não gostou da brincadeira, mas não foi por isso que deixou de confiscar alguns bens ao pai de Bernardo e fazer com que o mesmo Bernardo fosse o único sobredotado da margem sul a perder todos os dentes da frente tão prematuramente.
Desdentado mas tenaz, Bernardo viu a sua anterior corpulência e protuberância ser ultrapassada pela agilidade mental, a tal ponto de por volta dos dez anos se mostrar franzino e miúdo de artilharia, comparado com os colegas, mas incomensuravelmente mais esperto, o que lhe acalentou fundadas expectativas de um ajuste dentário com o pai em forma de acidente doméstico, e de um ajuste primata com o pai em forma de lhe papar a amante que ele tinha alugado num site de acompanhantes brasileiras. Diríamos, portanto, que Bernardo caíra na tentação de pôr a sua capacidade intelectual ao serviço da vingança mesquinha. E não tardou o dia em que o amaldiçoado pai veria o seu rebento de doze anos empoleirado ruidosamente na garupa da Dulcineia, três segundos antes do buraco da fechadura se ter transformado num embate de marreta angariador de todos os incisivos e mais alguns molares pelo caminho.
Porém, a vingança não foi consumada na plenitude. O pai ganhou platina nos maxilares, é certo, mas Dulcineia permaneceu com o número de setenta e três fornicadores que já tinha antes da tentativa do imberbe Bernardo. Foi enguiço previamente encomendado pelo cabrão do pai, pensou o pobre rapaz, ou não seria de admitir que, de tão devastadoramente inteligente, estivesse condenado ao atrofio da função sexual? Pelo sim pelo não, Bernardo arranjou maneira de acidentalmente regar o pai e a puta da Dulcineia com ácido clorídrico, antes de consultar um especialista em macumbices e um gay experiente que ensinava o evangelho, não fosse o caso de ser paneleiro. Mas o bruxo considerou-o imune e o padreco não se sentiu excitado, o que era motivo bastante de despreocupação. Todavia, o problema subsistia, pelo menos até novo empreendimento.
E havia de ser a Tatiana, empregada de limpeza ucraniana e prestadora de serviços delicados ao desfigurado pai do Bernardo, a ser chamada à prova de fogo. Nesta altura, Bernardo já tinha entrado nas catorze primaveras, já fazia o professor de matemática parecer um retardado, e já tinha o aparelho genital na forma adulta. Mas nada, Tatiana sentiu-se ofendida no seu brio profissional, e Bernardo, destroçado de frustração, não conseguiu isentar totalmente de culpa o pai, o que acabou por trazer a consequência de prostrar acidentalmente o progenitor numa cadeira de rodas. Tatiana não ficou com o cu em melhor estado, após o acidental recrutamento de um gang negro de Corroios.
Bernardo parou um bocadinho para pensar e facilmente descobriu que estava aí o busílis da coisa. Bernardo pensava demais, pensava em tudo excessivamente, e isso paralisava a sua virilidade e prendia-lhe os movimentos. Pensava na composição química dos sucos, pensava nas leis físicas da gravidade, da inércia e do atrito e outras tretas tais, sempre que o corpo da parceira se encontrava à disposição. Mas Bernardo era de grande tenacidade, como já referi, e, como acontece a tantos desgraçados, pôs a sua felicidade sexual à frente de uma promissora carreira de académico, gestor ou negociante de armas. Por isso, atirou-se de cabeça de um terceiro andar e, um mês volvido do coma, já consegue somar dois mais dois à terceira tentativa, enquanto satisfaz pessoas exigentes ao domicílio, sem pensar sequer se são mulheres ou outra coisa qualquer.


6 comentários:

Nórdico disse...

as imcompatibilidades sempre presentes entre sobredotados e super-dotados ... há que escolher a cabeça a seguir ...

Nórdico disse...

ahhh ... esquecia-me de dizer ... está excelente !

loira suicida disse...

Obrigado querido nórdico... os homens que vêm do frio sabem sempre apreciar-me... deve ser pela diferença de temperaturas...

Dina Pinheiro disse...

adorei este blog parabens,
nao te suicides ja,eh he eh eh....

loira suicida disse...

querida dina,
obrigado pelas tuas palavras de ânimo... e atendendo a elas não me suicido já..

Anônimo disse...

...ó Loira, não te atrevas a suicidar sem autografar o meu book. Ouviste?!?

Não consigo falar com as minhas connections aí de Beja e já estive mais longe de arrancar para aí...

Bjs pa'ti Loira ;)