sábado, 6 de outubro de 2007

Bia story

foto: http://www.yunphoto.net/mid/yun_2639.jpg

Bia nasceu burra como um pires de tremoços e feia como um escarro de tuberculoso, também nasceu com um olho para a merda e outro para o infinito, mas isto tudo são coisas, convenhamos, que não podemos imputar ao produto de tais fatalidades. Contudo, desde cedo somou àqueles infortúnios, digamos naturais, outros destrambelhos de personalidade onde se mostra abusivo culpar a mãe natureza ou as costas largas da hereditariedade. Falamos de sinais premonitórios de velhacaria adulta, como convencer os amigos de que era muito cristã, malgrado lhes rapinar as sandochas e os trocados no intervalo da catequese. Bia, agora mais asna do que um armário de parede e coreografando a sua fealdade tipo rapariga do exorcista já nas últimas, com um sensual andar de elefanta com três fracturas expostas em cada perna, mostrou bem cedo ao mundo que afinal a burrice e as parecenças com o Rui Bandeira podem livrar uma moça do suicídio prematuro, se na contabilidade da sobrevivência emergir um talento salvador. E ele existia, ainda brandinho e seminal, mas existia. E dava ares de se querer destacar por entre as sentenças da mais burra da escola ou da monstrenga mais assustadora da aldeia. Mas de que talento falamos, senhores? A arte da lambidela. Bia lambia como ninguém lambeu antes da Bia ter lambido a bandeira da juventude operária comunista por um impulso forte de identificação ideológica, logo depois desmascarado, aliás, mal foi conhecido o bolso cheio de rebuçados lá do rapaz líder operário do sítio. Aqui alguns vaticinaram, sem hesitar: putéfia na grande área a correr para a marca do penalty e a babar-se toda pelo caminho com um crachá comunista a pesar-lhe nas mamas, muito embora do comunismo Bia sentisse apenas familiar a cruz suástica, que por acaso até achava que dava as mãos muito bem com as suas cuecas de gola alta por causa dos pneus de fórmula um que assentavam nas suas ancas, agora num movimento muito mais sensual de bêbeda relaxada a fazer os cem metros barreiras.
Mas o que fazer? Lambia muito bem, pronto. Há quem dê em apanhar no cu, o que é uma variante mais dolorosa. Não é que Bia não oferecesse também o cu, na boa, mas o cu, como sabemos ou adivinhamos, é pretexto para muitas resistências, especialmente quando se apresenta a prestar, estalinisticamente, o culto da personalidade barbuda ao centralismo democrático do rego, e põe o mais desprevenido parceiro a tentar, em vão, não ver lá o rosto estampado do Fidel.
Havia a língua, pois então. No meio de uma boca deformada e adornada com todos os graves do histerismo vocal, mas havia língua, viscosa e porca, mas habilmente lambedora.
Bia cresceu, pois claro que cresceu, ficou mais feia, ainda mais mole e balofa, mais comunistamente equivocada em progressiva proporção ao seu dom lambedor. Lambia a torto e a direito e, porque não dizê-lo, em lucrativo proveito próprio. Conseguiu empregar-se, quando todos lhe auguravam as latrinas do quartel em part-time como o melhor dos ofícios; conseguiu a merecida recompensa do conselho operário local em forma de medalhamento por serviços lambidos à causa, conseguiu distinguir a foice e o martelo do facho ardente após curso doutrinário de longa duração.
Bia estava a vencer na vida, essa é que é essa, mas (há sempre um mas) quando tudo parecia um mar de rosas, no meio de uma passadeira vermelha outrora já lambida por si (pois naturalmente), havia de lá estar o cabrão de um prego espetado e afiado e a Bia, distraída como era, não reparou, coitada, e pisou-o. E fez sangue. Fez sangue no pezinho. Tirou a sandaloca e em fez de pedir ajuda médica e profissional junto de quem pode aconselhar sabiamente, digamos assim, não, foi-se a um degrau, arrumou as banhas para o lado, curvou-se toda quase a quebrar a espinha, e lá foi a puta da língua, maldito vício, lamber a sua ferida. Morreu.
Mas não foi uma morte qualquer, é que aquela língua tinha recolhido muito do pus que rebenta de inchaço ao longo das passadeiras. E morreu com a língua de fora, fazendo caretas à caricatura em que se transformou.

2 comentários:

Anônimo disse...

há gajas assim, de facto!!

Cláudio disse...

Irra!